Etiqueta e boas maneiras: fora de moda?

No programa Espaço Aberto da última quinta-feira falei sobre o tema:

Como consultora de imagem, cuido da imagem pessoal e profissional das pessoas na modalidade 360 graus: vestimenta + boas maneiras + aparência + imagem virtual, pois esse conjunto forma a imagem que projetamos ao mundo e é o que as pessoas percebem sobre nós.

A pessoa tem de estar impecável em todos os aspectos. De nada adiantaria se eu fizesse um bom trabalho como personal stylist e minha cliente ficasse linda e bem vestida só até se mexer ou falar, e depois fosse um desastre no quesito boas maneiras.

Por isso, temos que lembrar sempre daquelas regrinhas básicas de educação para uma convivência social pacífica.

Muita gente acredita que etiqueta social é ligada ao luxo, à riqueza material, à aristocracia e à realeza e utilizada somente nestes ambientes. Ou ainda, que a etiqueta é sinônimo de futilidade, afetação e completamente desnecessária às pessoas comuns.

Por essas crenças erradas,  que algumas pessoas rejeitam a ideia de aprender boas maneiras, mas vou provar o contrário, pois saber essas regras é basilar para se viver em comunidade, e ainda, é importante para a obtenção de um bom emprego e para romper as barreiras das classes sociais e ser bem recebida em todos os lugares.  

A palavra etiqueta começou a ser usada no reinado de Luís XIV da França, onde cada convidado recebia um cartão com indicações de onde sentar, como se comportar, comer e demais regras impostas pelo rei, as chamadas "etiquetas". Depois se proliferaram as "sociedades da corte", e as normas de etiqueta ganharam grande divulgação e importância na Europa. No Brasil, essas regras chegaram com D. João VI com a vinda da Família Real, em 1808.

Etiqueta social é o conjunto de regrinhas que nos ensina a ter consciência social, viver em grupo e saber se expressar dentro dele. É o equilíbrio do respeito, da dignidade e da ética, para valorizar a própria pessoa e os outros que a circundam.

Tem como fundamento: o respeito e a empatia para com o próximo, ou seja, colocar-se no lugar do outro e fazer com o outro aquilo que eu gostaria que fizesse consigo.

O bom comportamento é tão importante, que as empresas buscam, além da competência profissional, funcionários que possuam alto nível nestes três pilares:

- Saber se comportar de acordo com as regras de etiqueta corporativa;

- Saber se vestir adequadamente; e

- Saber as regras de etiqueta à mesa.

A maioria das regras de bom comportamento são aprendidas na infância no ambiente familiar, por isso é importante que os pais sejam pacientes e ajam com respeito e educação para passarem aos filhos esses exemplos, que durarão por toda a vida destes.

As pessoas sensíveis, apresentam naturalmente um bom comportamento, independente de sua conta bancária, classe social ou nível de estudo, porque respeitar o próximo é questão de delicadeza.

Infelizmente, é comum vermos pessoas bem vestidas, bem maquiadas, vestindo roupas caras e com péssimo comportamento, sendo grosseiras, se impondo aos outros e querendo chamar a atenção. Do que adianta tanta produção, se elas destroem suas imagens pelo mau comportamento?

As gafes são inadmissíveis socialmente. A boa educação deve estar sempre conosco, em qualquer lugar ou situação.

O egoísmo é a base da falta de educação: EU quero, EU estou morrendo de fome, EU estou com pressa, EU tenho que falar, e todos os Eus que giram em torno ao umbigo dos deselegantes.

Temos que começar a pensar de modo global e suprimir nosso egoísmo se quisermos crescer como seres humanos.

As regras de etiqueta mudam conforme a época histórica e os costumes locais. Por exemplo: agora temos regras sobre o uso de telefone celular, o que não existia no séculos passados; no Brasil é de péssimo tom fazer barulho quando sorvemos sopa, ao contrário do Japão, onde fazer barulho, neste caso, é bom-tom.

Vamos lembrar das regrinhas básicas da boa educação?

- Temos que respeitar as opiniões alheias, porque todos nós somos diferentes uns dos outros;

- Respeitar as coisas do outro. Pede-se permissão para usar e entrega-se aquilo que nos foi emprestado no mesmo estado em que recebemos;

- Se você é fumante, não imponha seu vício aos outros, peça licença e saia para fumar. Se o fumante é seu hóspede, seja tolerante e predisponha um cinzeiro no pátio externo da sua casa ou na sacada e informe-o onde pode fumar;

- Em uma refeição: Mastiga-se com a boca fechada. Antes de beber, devemos engolir toda a comida e limpar os lábios com o guardanapo. Não gesticulamos com os talheres nas mãos. Não pegamos para o nosso prato o último pedaço (deixamos para os outros). Não apoiamos os cotovelos na mesa. Em público, não limpamos os dentes com os dedos, com a língua  e muito menos com palitos (toda a higiene deve ser feita somente no banheiro e não colocamos paliteiros na mesa para evitar que alguém use);

- Respeitar seu lugar na fila e não tentar passar à frente dos outros. Não se encostar na pessoa a sua frente, é desrespeitoso e até imoral;

- Não chegar em lugares impondo a própria presença, falando alto, assoviando ou gesticulando. Tenha classe e você será mais percebido;

- Moderar o uso do celular: não falar alto, não usá-lo à mesa e em reuniões, mudar o toque para um toque padrão baixo, e colocar na vibração se estiver no trabalho, cinema, igreja, etc;

- Ao telefone, quem liga se identifica antes;

- Não apontar o dedo;

- Não fazer fofocas e evitar escutá-las;

- Não abrir a geladeira e os armários de outras pessoas;

- Não fazer piadas nem brincadeiras que possam incomodar alguém, ainda mais se forem preconceituosas;

- Não chamar por apelidos quem não é de sua intimidade. Acontece frequentemente que um vendedor lhe pergunte seu nome e logo depois o chame pelo diminutivo: Lu, Fer, etc. Nada mais estranho e mal educado do que isso.

 O casal também deve cuidar para não usar apelidos carinhosos quando estão em público, fica muito chato para os outros ouvirem "môr", "gatinho", e assim por diante. Sua intimidade deve ficar fechada em casa.

- Em frases, colocar-se em último lugar: beltrano, fulano e eu;

- Nunca criticar postagens ou fazer discussões em perfis de redes sociais alheios. Se não gosta do que uma pessoa posta, pare de segui-la e pronto;

- Não tocamos o interlocutor enquanto conversamos;

- Em apresentações, cumprimentamos com a mão. Não precisamos beijar quem está sendo apresentado;

- Temos que respeitar as pessoas que têm dificuldades motoras e cognitivas, dando precedência, sendo pacientes e oferecendo ajuda;

- Quanto mais idosa a pessoa, mais respeito merece;

- Nunca use de sincericídio. Você pensa que é sincero falando o que pensa da outra pessoa, quando, na verdade, é apenas mal educado e arrogante;

- Não é educado pedir o que não está na mesa, como sal, azeite, outro prato, etc. Devemos nos satisfazer com o que já está na mesa e dos temperos dos pratos, sem querer alterá-los.

- Na academia: não usamos um aparelho por muito tempo, principalmente quando tem outra pessoa esperando por ele. Da mesma forma, não "alugamos" outros aparelhos com nossos pertences. Depois de usar uma máquina, a deixamos pronta para o próximo usuário, retirando os pesos que colocamos. Sempre usamos toalha para não deixar suor na máquina, nem passamos a mão no nosso suor e encostamos na máquina, para não colocar suor nela. Se estiver com o rosto suado, limpe-o com outra toalhinha ou lave-o. Não falamos alto no celular, não conversamos em voz alta e nem ouvimos músicas em alto volume na academia, para não perturbar quem quer se concentrar nos exercícios;

- As palavras "educadas" ainda estão em uso, abuse delas: bom dia, boa tarde. boa noite, com licença, por favor, posso (?), me desculpe, obrigada;

- Não imponha seu perfume aos outros. Poucas gotas são suficientes;

- As pessoas não são obrigadas a ver seu corpo. Em público não use roupas muito abertas, como as camisetas "machão", chinelos, rasteirinhas, shorts, minissaias, bermudas, tomara-que-caia, tops curtos, etc.

Em ambientes formais como igrejas, prefeituras, fóruns, escolas e universidades, hospitais e escritório, o uso de sandálias não é de bom tom, isso vale também para as mulheres. O mundo formal não precisa ver seus dedinhos.

- Não visite ninguém antes de consultar a pessoa previamente se estará em casa e poderá recebê-lo. É muito mal educado e até maldoso apresentar-se na casa de alguém que está desprevenido, porque esta pessoa pode estar mal vestida, despenteada, comendo, dormindo, trabalhando, etc

- Esmere-se com sua limpeza pessoal. Faça banhos diários, cuide da limpeza de ouvidos, unhas, cabelos e roupas. Esses cuidados são o mínimo que você deve ter antes de sair de casa. E se tiver pêlos nas narinas, ouvidos e mãos, retire-os, pelo bem comum;

- Crianças em restaurantes: só se forem bem comportadas. Se seu filho sai correndo pelo local, come com a boca aberta, grita e chora, é melhor ensiná-lo boas maneiras em casa, antes de sair com seu anjinho em lugares onde os outros querem ter paz para fazer uma refeição e conversar tranquilamente.

- Não exagere na bebida, porque ficar "alto" fica muito feio para você e sua família, além de incomodar os outros. Se algum bêbado estiver lhe perturbando, fuja para não se envolver com ele;

- Se visitar um recém-nascido na maternidade, permaneça no máximo por 15 minutos. Só visite o bebê em casa, se for amigo íntimo dos pais, e por no máximo meia hora, e melhor se for após os 40 dias de vida. Não peça para pegar recém-nascidos no colo, tocá-los ou falar muito próximo deles, para não contaminá-los, pois não têm seu sistema imunológico desenvolvido;

- O homem dá passagem à mulher sempre, exceto nos seguintes casos: ao entrar em um restaurante, pois ele deve falar com o gerente sobre a reserva; ao entrar em locais estranhos, que o casal não conhece; ao descer uma escada, para ampará-la caso caia, e também, ao subirem uma escada, a não ser se for seu esposo ou namorado;

- Quem paga a conta é quem convida. Quando combinado entre os dois, a conta será dividida. Mesmo com essas regras, se o homem quiser ser cavalheiro, pode pagar a conta para a mulher, que com certeza ficará encantada com tal delicadeza;

- Respeita-se os vizinhos. É sinal de péssima educação perturbar o sossego deles fazendo barulhos até tarde da noite, ouvir música alta, bater no chão, etc

- Minha amiga está com sujeira entre os dentes, o que devo fazer? Meu amigo está com o zíper aberto, aviso?

Não pense muito e faça com o outro o que gostaria que fizesse com você: avise! Imagine se a pessoa ficar durante a festa inteira com uma alface entre os dentes e não for avisada? Seja discreto e fale com delicadeza e a pessoa lhe agradecerá;

- Se você não sabe quais talheres usar entre tantos à mesa, lembre-se de começar de fora para dentro. Primeiro os talheres que estão mais longe do prato, seguindo para dentro. Se acha que não dominará essa técnica, telefone antes para o restaurante e pergunte qual é o serviço usado. Sugira que simplifiquem sua mesa, colocando apenas um prato, um copo e um par de talheres ou mude para um restaurante mais simples. Se você for o anfitrião, não coloque seus convidados em dificuldades, e arrume a mesa de forma que eles consigam se portar sem embaraço;

- Não fale do corpo dos outros. Não diga o quanto a pessoa está gorda ou magra, nem pergunte se fez dieta, lipoaspiração, plástica, ou pior, se está doente. O corpo de alguém diz respeito apenas a ela própria e mais ninguém;

- Se não lhe perguntarem não fale sobre suas viagens, muito menos sobre a casa da praia linda que você tem, ou sobre carro novo que comprou, restaurantes de luxo que frequenta, suas jóias lindas, e lojas exclusivas que compra suas roupas. Fica mais grave se o interlocutor for alguém com poucas posses.

Isso se chama esnobismo e ninguém gosta de pessoas esnobes. Você pode ser rico, mas é um grande mal educado se comete essa indelicadeza.

- Trate todas as pessoas igualmente e com boa educação. Sua diarista merece o mesmo respeito que seu chefe. 

- Não lave roupas sujas nas redes sociais. É de mau tom desabafar na internet, seja para falar daquela amiga "cobra", do marido pego em flagrante ou que não paga a pensão dos filhos. Você estará prejudicando mais a si mesma do que à pessoa delatada.

Lembre-se: a elegância não é frescura, comportar-se com boa educação não é uma opção, é nosso dever.

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Luciana Zampieri, consultora de imagem